31 de ago. de 2016



Proibido Estacionar
e outras Histerias Urbanas

de Mentor Muniz Neto





... abençoado somos nós que temos alguém capaz de descrever com alegria as nossas maiores tristezas. Ou contar com tristeza as nossas maiores alegrias. “

Rodrigo Bocardi

Apresentação de Rodrigo Bocardi

É uma cidade remendada. Com puxadinhos, becos, vielas. Construída pela arquitetura da desordem. Dependendo da esquina que dobrar vai encontrar ambulantes pendurados em produtos chineses, gente à espera da esmola do dia, pessoas que vendem ilusão num pingente, fiéis que — no centrão dessa cidade — pregam a interpretação de um livro sagrado.

É um lugar com muitos desconfiados. Com gente de todo canto, de todas as cores, todas as raças. De José ou Josué a Maria ou Marie. Com sobrenomes italianos, portugueses, latinos pronunciáveis com o apoio das vogais a árabes, hebraicos, asiáticos carregados de consoantes e ideogramas.  
Ela é cheia de preconceito. E também de discursos e atitudes pelo fim das diferenças. Tem parada do orgulho gay uma vez por ano e igrejas de todas as crenças abertas todos os dias.

É uma cidade que depende da segurança pública para dar segurança ao público. Tem show na rua, tem museu de monte, restaurante local e internacional. Bares e baladinhas — porque ninguém é de ferro.
Um lugar bem quente no verão que pede cachecol no inverno. Que anda a 40, 50 quilômetros por hora. E multa quem dá a sorte de não encontrar congestionamento e consegue acelerar mais do que isso. Trem — dá pra contar os metros de trilhos. E os ônibus -muitas vezes lotados — são a salvação. Só para se localizar, a distância que separa o tumulto da cidade ao caos da praia é de 60 quilômetros.

Nessa cidade todas as crianças são lindinhas, os adultos são magros e obesos, fracos e fortes, franzinos e musculosos. Os idosos têm cabelo branco, rugas e exigem respeito além de prioridade. Todos sentem amor e ódio.
Ah, prefeito ladrão - até isso um dia já teve. Ele disse que roubou mas fez! E foi em obras públicas, na construção civil.

É São Paulo 462!
É Jerusalém 3000!

Quando fui convidado pra escrever esse prefácio estava na capital de Israel. De férias - frise-se. Só que o convite virou consolo. Ao comparar, por exemplo, o comportamento na maior cidade do jovem Brasil com uma das cidades mais antigas do planeta Terra, descobri que uma capital milenar apresenta as mesmas HISTERIAS URBANAS de uma metrópole secular. Da mesma forma que é PROIBIDO ESTACIONAR num lugar com quase 500 anos é impeditivo também onde há mais de três mil anos de existência.

Portanto, lamento leitores, vejo que poderemos ter mais uns 2500 anos ainda pela frente para este autor nos presentear com análises do comportamento humano ou urbano. Ele — o comportamento — sempre se mostrará inviável. Se nem uma Terra que é Santa vive sem as contradições — pra não dizer histerias — abençoados somos nós que temos alguém capaz de descrever com alegria as nossas maiores tristezas. Ou contar com tristeza as nossas maiores alegrias.

Neto (é assim que o trato — por sorte dele — porque Mentor ninguém merece), amém por mais esta obra. E que possamos todos rir e chorar muito com nós mesmos por meio das suas palavras.

Rodrigo Bocardi é jornalista e apresenta o jornal Bom Dia São Paulo na Rede Globo. 





Apresentação  Pedro Doria

Neto anda pelo mundo e vê. Anda pelos lugares em que nós andamos. O show de cantor pop para adolescentes, o Cirque du Soleil, uma praia carioca ou uma loja na Oscar Freire. Mas ele não vê como nós. Observa muito além. Ele nos vê pelo ridículo dos hábitos que repetimos todos. Não com um olhar de desprezo. Seu olhar é solidário.

Compartilhamos todos nossa ridiculez desta vida de classe média urbana em tempos digitais.

Que o leitor logo saiba: existe na internet algo chamado Método Neto de Fazer Amigos e Angariar Seguidores. Este livro é um manual de estilo. Cada frase nos revela a nós mesmos. Como somos. Cada texto, um ensaio antropológico em forma de crônica. Tudo de rápida leitura, sempre arrancando um sorriso. Um sorriso, mas também uma pequena tristeza.
 Quem não lê Neto não entende o Brasil.

Pedro Doria, jornalista CBN, Estadão e O Globo






O diretor de arte Mentor Muniz Neto lança o seu segundo livro.
Neto como é conhecido nas redes sociais começou a publicar suas crônicas na internet em 1998, no blog com o sugestivo nome de “Não Conte para a Mamãe”
De lá para cá, no Twiter e no Facebook, conquistou uma legião de fãs e leitores fieis de suas historias diárias, que tanto podem falar de um produto, um festival, uma situação inusitada ou cotidiana, sempre com um olhar agudo e atento sobre os temas.
Com o sucesso das crônicas de Neto no Facebook veio o primeiro livro: “Ódio, Raiva, Ira e outros Prazeres Diários”, um ano atrás em agosto de 2015. E com o sucesso dessa empreitada literária lançamos agora o segundo...

O livro tem cerca de 224 paginas e trás um tanto da personalidade que Neto vai mostrando em analises divertidas e mordazes, com criticas mais ácidas ou generosas a questões sobre as quais não nos debruçamos com tanta atenção, mas que nos fazem pensar na vida cotidiana com um sorriso amarelo ou com uma boa gargalhada!











Ficha Técnica:

Título: Proibido Estacionar
Autor: Mentor Muniz Neto
São Paulo – SP
2016
ISBN: 978-85-65056-99-1
224 páginas
14x21 cm
Brochura com orelhas
Preço: R$47,00


Lançamento
Livraria da Vila JK Iguatemi
Data: 24/08/2016
Horário: 19h às 22h
Local: Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 2041
JK Iguatemi - Itaim Bibi, São Paulo – SP
 (11) 5180-4790


Contato: Caroline Lima (11) 3052-1812
www.editoradash.com.br





rua Rodolfo Troppmair 89, Paraíso, São Paulo
tel 30521812









8 de ago. de 2016


Quando a mãe dançou no ballet

Era véspera do Dia das mães. A professora de ballet da minha filha - uma menina nova em idade, mas cheia de idéias inovadoras - convidou as mães das alunas para uma aula especial.
Em uma bonita escola de dança, com salas grandes espelhadas, a professora se explicou. Disse que a proposta de nos chamar ali, naquele dia, era a de promover uma experiência diferente para as pequenas alunas.
No dia a dia de suas aulas, ela podia observar que, no imaginário daquelas pequenas meninas, nós, suas mães, éramos o grande modelo para elas. E, portanto, ela gostaria de fazer, naquele dia, as admiradas dançarem diante dos olhos espantados de suas pequenas admiradoras.
Confesso que ouvir aquela proposta me deixou apreensiva. Dançar na frente da minha filha? Isso me pareceu um tanto desconfortável... Mas, vamos lá!
Abrindo um parênteses.
Meu grande sonho de menina sempre foi ser uma bailarina. Ainda pequena, me lembro de ficar imóvel diante da pequena televisão catorze polegadas, ainda de tubo, da sala da casa de meus pais, admirando boquiaberta os saltos e piruetas executados com precisão em apresentações de ballet clássico profissional. Se as saias fossem daquelas mais longas, que acompanhavam as pernas da dançarina (e que, portanto, não eram do estilo toutou) tanto melhor!
Cheguei a fazer alguns meses de ballet na infância, mas logo parei. Não sei ao certo porquê, nunca insisti para voltar. E segui crescendo com esse sonho infantil povoando o meu coração.
Fechando parênteses.
Por conta dessa história pregressa, confesso, um tanto envergonhada, que dei meu máximo naquela improvisada apresentação de mães. Queria parecer bonita e admirável para minha filha! Levei a sério e me esforcei para fazer os movimentos da melhor maneira possível, seguindo direitinho às instruções da professora. Fiz de tudo para me lembrar das aulas de ballet que fiz depois de adulta! (uma tentativa de diminuir minha frustração infantil de nunca ter colocado nos pés uma sapatilha de pontas). Mas, ao que tudo indica, não fui bem sucedida.
Ao final da apresentação, fui ao encontro da minha filha, ansiosa para saber suas impressões.  Olhei para ela com aquele olhar infantil que ela, tantas vezes, me olhou, buscando aprovação, admiração ou, simplesmente, um apoio para seguir adiante. Naquele momento parecia que eu não era a mãe e ela minha filha. Nossos papéis se inverteram e era eu que estava ali, procurando no seu olhar, a aprovação por algo que eu tinha feito. Torcendo para encontrar nele um carinho ou algum indício de aceitação.
Mas minha filha, sábia como sempre, não correspondeu às expectativas infantis de sua genitora e logo me deu um choque de realidade, me colocando de volta ao meu lugar de mãe, adulta, mulher crescida. “Você estava ridícula mamãe! kkkkkkkk!”.
                                                                         ***
Filha, você estava certa. Sua mãe estava mesmo ridícula e desengonçada! No vídeo gravado pela mãe de sua amiguinha isso ficou claro e nítido. Mais até do que eu gostaria de admitir! Acho que a vida foi gentil comigo por ter me levado para outros rumos que não o da dança pois, muito provavelmente, eu teria sofrido bastante com o grande desequilíbrio que, certamente, eu iria encontrar entre o meu esforço e minha possibilidade de realização.
 Sabe filha, foi engraçado eu ter me dado conta, nesse acontecimento tão banal, de que você não é a única que me olha buscando admiração. Eu também desejo ser admirada e ser gostada por você! Apesar de adulta e já crescidinha, eu também tenho, lá no fundo, algo de infantil. Que procura ser aceita diante de seus olhos. Tenho que te confessar, filha minha, que dancei diante de você dando o melhor de mim! Como se estivesse diante de um renomado crítico de arte! E me dei conta do quanto olhar de quem eu amo continua sendo importante para mim, mesmo depois de grande.
Refletindo aqui vejo que, muitas vezes, esse olhar tem mais peso do que todo reconhecimento que o mundo lá fora por nos dar. E que não há nada melhor para mim do que ser escutar um elogio dos meus pais ou do meu marido. Ainda hoje, do alto de meus quase 40 anos! Confesso que acho isso muito curioso. Como, mesmo crescida, ainda continuo buscando o olhar de aprovação daqueles que eu mais amo. Como se eu fosse ainda uma menina de 6 anos de idade...
E fico pensando, minha filha, se eu, como sua mãe, serei capaz de te oferecer o tipo de olhar que você necessita para crescer confiante e segura de si. Para ter força e coragem para seguir aquilo que te faz bem. Para escutar o seu desejo e trilhar o caminho que for agradável ao seu corpo e ao seu coração.
Prometo que vou me esforçar mas já confesso, de antemão, que tenho medo de não conseguir... E já estou tentando me acostumar com a idéia de que meu olhar não será suficiente para você e que, durante sua vida, você precisará encontrar outros que te completem e te façam sentir especial.
Por ora, o que posso te dizer é que você não precisa fazer nada para eu te admirar. Suas existência diante de mim já é motivo suficiente de gozo e contentamento. O jeito que você anda, o jeito que movimenta as mãos para argumentar. O jeito que você franze sua testa quando está prestando atenção em algo que te interessa. O jeito que você dorme e o rostinho inchado que você acorda. Só isso é suficiente para eu ter vontade de te olhar, te beijar e te abraçar até o final dos meus dias.
Por fim, te peço desculpas, minha filha por esses momentos onde, distraidamente, eu esqueço do meu papel de mãe e me comporto como se eu fosse a filha... E te agradeço por você sempre estar atenta para me lembrar de quem é quem nessa nossa linda e intrincada relação...


Isabel Coutinho é psicóloga, mãe de 2 filhos e autora do livro MÃE EM CONSTRUÇÃO: reflexões, angústias, desafios. Dash Editora.